sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Sobre nós


Queremos cair como um meteorito. Algo que escapou aos radares, não previsto pela meteorologia, feito de uma matéria desconhecida, vindo de um lugar não-identificável, ainda a arder.

“Uma vez apaixonei-me ali, em cinco minutos”, diz a dada altura Matilde Campilho, olhando um qualquer ponto algures no fim da rua, onde o sol excessivo rodeava as folhas de uma das árvores do Largo de São Paulo, em Lisboa, desfocando-as.
A frase veio assim do nada, a meio da entrevista, tão desarmante e espontânea quanto a poesia de Jóquei – o livro de estreia da menina Campilho – consegue ser nos seus mais iluminados momentos. Ser ou parecer, visto estes poemas terem o condão de, na sua oralidade desavergonhada, que mistura português de cá com o do Brasil (e inglês de permeio), soarem quase como uma conversa, ou antes: um monólogo saído de jacto dirigido a um qualquer tu, por vezes ausente.
Jóquei caiu no meio literário português e no brasileiro como – à falta de melhor imagem – um meteorito. Algo que escapou aos radares, não previsto pela meteorologia, feito de uma matéria desconhecida, vindo de um lugar não-identificável, ainda a arder.
Prince, Dylan, Simon & Gafunkel
Saída então não se sabe de onde, a menina Campilho é, neste momento, um caso. Literário, como acrescentaria Borges, um dos seus autores de eleição. Tanto em Portugal como no Brasil os críticos desdobram-se em encómios – sendo que o caso brasileiro é ainda mais de espantar, tendo em conta que o livro não foi lançado lá. As entrevistas seguem em catadupa, da Globo ao i, passando por publicações de poemas na Folha de São Paulo. Gustavo Rubim, crítico de poesia do Ípsilon, chamou-lhe “um acontecimento precioso em língua portuguesa” e identificou nesta voz um “vento de pura selvajaria”. Num universo em que os lançamentos não têm mais de 150 exemplares e não esgotam ao fim de anos, Jóquei já vai na segunda edição.


Existem frases que nos dizem coisas mesmo quando não sabemos porquê.