segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Conferência sobre conferir 1


Tenho que confessar uma coisa - a maior parte dos grandes textos que leio não entendo à primeira. Provavelmente porque estou à procura de significados, quando na verdade eles já lá estão e não é preciso procurar por eles.
Por um lado, procuramos cegamente aquilo que nos foi dito sobre aquele texto, e de tanto procurar encontramos, mesmo que não lá esteja. Por outro, quando lemos verdadeiramente um texto, muitas vezes surpreendemo-nos porque não é compatível com a descrição que tínhamos dele.

Estava à procura deste texto há algum tempo.

Os jovens de hoje gostam do luxo.
São mal comportados,
desprezam a autoridade.
Não têm respeito pelos mais velhos
e passam o tempo a falar em vez de trabalhar.
Não se levantam quando um adulto chega.
Contradizem os pais,
apresentam-se em sociedade com enfeitos estranhos.
Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes,
cruzam as pernas
e tiranizam os seus mestres.
SÓCRATES (470-399 A.C.)


Não vão acreditar, mas eu citei este texto várias vezes sem o ter lido, porque achei que dizia exactamente o contrário. 

Quando li não quis acreditar.
O peso que tem o nome de Sócrates fez com que tentasse procurar algo de interessante e verdadeiro nisto que ele disse. A verdade, é que quando leio este texto a única coisa que consigo dizer é que apesar de muitas coisas geniais que poderá ter descoberto, esta citação é igual às do meu avô, que não acreditava na geração dos netos. 
A única explicação que consigo arranjar para isto é o facto de não conseguirmos suportar novas opiniões e formas de estar que fiquem em confronto com a nossa.  Parece que a capacidade de mudança diminui à medida que o tempo vai passando. E não está necessariamente ligado à idade mas sim ao espírito. Já ouvi pessoas com vinte anos a criticarem as de quinze - diziam que em poucos anos se tinha perdido o respeito pelos outros, que a noite dos mais novos era cada vez mais descontrolada - fumavam mais bebiam demais. O que é que isto interessa? E que fundo é que isto tem de verdade? 
Também não me quero tornar moralista com a minha opinião, mas irrita-me os clássicos serem verdades únicas e relativamente a este assunto, irrita-me a arrogância com as gerações que aí vêm.


Falo de coração aberto, é claro, porque acabei de me formar. Mas enfim, estamos aqui para isto, para conversar. 





















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